O que é Jaracatiá

Conheça o Tesouro da Mata Atlântica

“Jaracatiá o Tesouro da Mata Atlântica!”

Jaracatiá é um dos nomes de uma árvore nativa das florestas brasileiras. Também conhecida popularmente pelos nomes de mamuir, mamão-bravo, barrigudo, mamão pimenta ou chamburu, o Jaracatiá é cientificamente denominado Jacaratia Spinosa, pertence a ordem Brassicales e a família caricaceae. Originalmente abundante na Mata Atlântica, é típico de solos férteis, ocorrendo em serras, planícies e fundos de vales junto aos cursos d’água. Pode ser encontrada do sul ao norte do Brasil.

Na mata, chega a atingir vinte metros de altura e pode ter o tronco com até dois metros de diâmetro. A espécie possui o caule bastante mole, com toda a casca e ramos repletos de espinhos. É uma árvore esteticamente muito bonita com folhas recortadas e espalmadas entre cinco a doze folíolos, de cor verde intenso e brilhante.

Jaracatiá é dioico, tendo a necessidade da presença dos gêneros macho e fêmea para a fecundação de suas flores. O Jaracatiá tem flores pequenas e brancas, floresce a partir do mês de setembro e os frutos amadurecem entre os meses de janeiro e março, com o apogeu em fevereiro.

Os frutos do Jaracatiá possuem um formato ovalado e quando maduros tem a cor amarela alaranjada, assemelhando-se a pequenos papaias.  São comestíveis e avidamente procurados pelos animais na mata. Muito apreciado por macacos bugios, quatis, pacas, cotias e aves terrestres. Também o Jaracatiá sempre foi muito importante na dieta dos indígenas e alimento de fácil obtenção para aqueles que se embrenhavam nas matas.  

Do fruto do Jaracatiá, se extrai um látex (leite) muito forte, que precisa ser retirado antes da ingestão do fruto.

Esse mesmo látex cáustico era usado pelos povos originários do Brasil, pelos primeiros desbravadores e colonizadores como elemento medicamentoso, eficaz como  vermífugo, fortificante, entre outras ações curativas internas e externas.

O Jaracatiá, cada vez mais raro na natureza, até hoje é vítima do desmatamento criminoso, que o fez entrar em altíssimo risco de extinção. Restam hoje poucos exemplares do Jaracatiá nativo nos remanescentes de Mata Atlântica.

A família Speranza Modesto iniciou o trabalho de recuperação da espécie e de resgate de sua cultura gastronômica na década de 80. Coletando sementes das últimas matrizes na Serra do Itaqueri, no interior do Estado de São Paulo, continuamos a produzir, plantar e distribuir gratuitamente milhares de mudas de Jaracatiá.

 Só recentemente o Jaracatiá, qualificada com uma PANC (plantas alimentícias não convencionais) voltou a ser valorizado pela ciência como fonte de nutrientes, possibilidade curativa e como objeto de resgate da cultura tradicional do Brasil.

A empresa Speranza Modesto é a pioneira no trabalho com o Jaracatiá, desenvolvendo várias pesquisas sobre as diversas potencialidades de uso integral do Jaracatiá.

Com seu trabalho a Speranza Modesto Artesanatos Ltda. preserva a biodiversidade, fortalece a economia criativa e cria uma rede de geração de renda estimulando o plantio comercial e sustentável do Jaracatiá.

“O Jaracatiá na Memória Indígena”

A palavra Jaracatiá vem da língua Tupi. Sua expressão e sua cultura como alimento, uso curativo e ritualístico foi transmitida por muitos séculos entre as diversas tribos e etnias dos povos originários do Brasil, pela memória oral dos índios velhos e pajés.

As prováveis expressões originais do Jaracatiá são: 

YAKAKAXI’A – Fruta Cheirosa do rio.
YARAKAATIA – Árvore desenhada por Yara.
YARAKATÜ’A – Fruta saudável das águas.

Do estudo dessas primitivas nomenclaturas indígenas, verifica-se que o Jaracatiá sempre foi considerado pelos índios como um elemento curativo, de cheiro agradável e fortemente ligado a água.

 Os frutos do Jaracatiá eram largamente consumidos pelos índios. Apreciavam o fruto in natura e também moqueados (assados na brasa). Assim, eliminava-se o efeito cáustico do látex que brota dos frutos ainda verdes.

 

O Jaracatiá, presente em todo o território nacional, sempre guardou uma íntima relação com os grupos indígenas do Brasil. Tanto a madeira quanto o fruto do Jaracatiá sempre foram aproveitados pelas diversas etnias nativas como alimento, fonte de cura para doenças e importante ingrediente de rituais.

A etnia Kaingang, que já foi um dos grupos indígenas mais numerosos do Brasil, estendendo-se do atual Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul, nos dá um ótimo exemplo da utilização ritualística do Jaracatiá. Durante o chamado “ritual do Kiki” o tronco do Jaracatiá torna-se o cocho onde se prepara a bebida que será tomada ao final de um longo cerimonial festivo de homenagem à memória dos antepassados.

 A serra do Itaqueri, já foi habitada pelos índios Payaguas, conhecidos como “reis das águas” por serem considerados imbatíveis em combate ao longo dos rios. Hoje, com o empreendimento sustentável desenvolvido pela Jaracatiá doce&arte, a serra do Itaqueri voltou a ser também a casa da árvore “rainha das águas”, a Jaracatiá.

“Jaracatiá na história do Brasil”

As notícias da existência do Jaracatiá já chegavam a Europa desde o início do século XVI, junto com as primeiras cartas oriundas da terra nova. As primeiras impressões vivenciadas no Brasil pelos pioneiros nas guerras de conquista, pelos religiosos jesuítas na convivência com os índios ou mesmo pelos primeiros colonos da costa brasileira foram relatadas nas chamadas Cartas Quinhentistas.

Nesses escritos a partir de 1500 não faltam referências ao Jaracatiá como fruto comestível, ingrediente medicamentoso, elemento ritualístico e mesmo como objeto de incipientes estudos botânicos. Os primeiros desbravadores portugueses, franceses e holandeses escreveram vários relatos..

 

Pero Lopes de Sousa escreveu em 1532 o “Diário da Navegação da Armada”, onde além de relatar as aventuras de seu irmão Martim Afonso de Sousa na fundação de São Vicente, também faz descrição das novidades aqui achadas, dentre elas o Jaracatiá.

Hans Staden, aventureiro e mercenário alemão, feito prisioneiro de uma Tribo Tupinambá, no litoral de São Paulo, escreveu em 1557 a “História Verdadeira e Descrição de uma Terra”, onde discorre sobre suas aventuras fazendo também menção ao Jaracatiá e seus usos.

Também os religiosos franceses André Thevet, frei franciscano e Jean de Lery, calvinista, vivenciaram a disputa entre franceses e portugueses pela Baia de Guanabara e sobre ela escreveram suas percepções. Ambos, em seus escritos, respectivamente em 1557 e 1578 também deram conta da existência do Jaracatiá e suas propriedades.

Os Padres Jesuítas, construíram com os nativos uma intensa relação de troca cultural e comercial, conhecendo o valor do Jaracatiá para os indígenas.

O Padre Manoel da Nóbrega em 1549, o Padre José de Anchieta em 1560 em sua “Carta de São Vicente” e o Padre Fernão Cardim em 1583 em seu escrito “Tratado da Terra e da Gente do Brasil”, fazem citações e descrevem o Jaracatiá como bom alimento da terra e eficaz remédio indígena.

Ainda dentro dos escritos Quinhentistas merece destaque a “História da Província de Santa Cruz”, de Pero de Magalhães Gandavo em 1576. Nela o autor destaca as “cousas locais do Brasil”, não faltando assim em seu texto, marcantes dados sobre o Jaracatiá.

Gabriel Soares de Sousa, próspero colono na Bahia escreveu em 1587 o “Tratado Descritivo do Brasil”.

Sua obra se constituiu num dos principais acervos literários da visão quinhentista da nova terra. Nela, Gabriel Soares de Sousa valoriza o Jaracatiá chamando-o de mamão nativo. Assim discorre em seu texto: 

Nesta terra se cria outra fruta, que em tudo se parecem com mamões, senão que são mais pequenos, à qual os índios chamam de Jaracatiá. É árvore delgada, de cuja madeira se não usa. Esta árvore dá uma flor

branca e um fruto amarelo por fora, da feição e tamanho dos figos (…) tem essa fruta a casca que se lhe apara quando se come. Tem bom cheiro e sabor que toca o azedinho e tem sementes pretas que se lançam fora”.

Durante o movimento Bandeirante, que desbravou o interior da então colônia portuguesa desde o final do século XVI, o Jaracatiá esteve presente não somente como alimento “in natura” nas expedições, mas também como importante medicamento contra infecções e outros males. 

Já em pleno século XVIII, com o florescimento do ouro nas Minas Gerais, o crescimento das cidades e a consolidação das rotas comerciais, o Jaracatiá emerge como um dos mais saboreados doces confeccionados com fruta nativa do Brasil. Nesse período, várias mulheres negras, chamadas “Escravas de Ganho” chegavam a comprar a liberdade (Carta de Alforria) com o dinheiro da venda de seus doces. 

No final do século XIX, ocorre a chegada de milhares de imigrantes nas regiões sudeste e sul do Brasil, alocados, sobretudo na lavoura cafeeira. A cultura europeia empresta a tradição culinária sobretudo italiana para a confecção de novas possibilidades gastronômicas com o uso do Jaracatiá.   

Na literatura brasileira também foram inúmeras as citações e exaltações ao Jaracatiá. No ano de 1872, por exemplo, foi publicado aquele que é considerado um dos mais lidos romances brasileiros – Inocência, de Visconde de Taunay. No capítulo XVI – O empalamado – o Jaracatiá tem o papel principal. Vejamos o pequeno trecho do livro:

(…) há de o senhor engolir uma boa data de leite de Jaracatiá, disse Cirino. – Jaracatiá! Exclamaram com assombro o doente e o senhor Pereira. – O que é Jaracatiá? Exclamou por seu turno Meyer. (…) Isso não vai queimar as tripas do homem, disse o mineiro Pereira. – Não sou nenhuma criançola asseverou Cirino. (…) – Esse remédio é meu e é muito forte. E não é nem uma, nem duas vezes que com ele tenho curado empalamados. O segredo está na quantia do leite (…).  

Já no início do século XX, o próprio Marechal Rondon, fala por diversas vezes em seus relatórios, da fruta do Jaracatiá, que servindo de alimento para seus comandados nas matas do centro oeste brasileiro, era por vezes também causa de mal estar entre os mesmos em razão do consumo sem a retirada do leite cáustico dos frutos. Para Rondon, Jaracatiá na mata é sinônimo de sobrevivência.

 O início do século XX também apresenta o Jaracatiá com a utilização de seu caule para a produção de uma espécie de cocada feia com melado de cana. Na época, a produção de cocos na região sudeste era pequena e bastante custosa, enquanto o Jaracatiá era abundante nas matas. Assim, seu uso indiscriminado leva a espécie quase a extinção.

 A ação da família Speranza Modesto de recuperação e resgate da cultura do Jaracatiá na Serra do Itaqueri, marca o renascimento da espécie na história do Brasil.

O Jaracatiá na Serra do Itaquerí

O Jaracatiá era abundante em toda a serra e todo o vale do Itaqueri. Das fraldas até o alto da serra floresciam inúmeros pés. As terras férteis e a fartura de água ofereciam ao Jaracatiá as condições perfeitas para o seu crescimento. Até o século XIX o Jaracatiá reinou absoluto em toda a região do Itaqueri.  

 

Essa região do médio Tietê, já no final do século XVII passou a ser rota cada vez mais usada pelos Bandeirantes que desbravavam os sertões em busca de riquezas comerciais e de ouro. No século XVIII, no ano de 1725 consolidou-se da chamada Trilha do Picadão, que oriunda do Planalto Paulista, passava por Limeira, Rio Claro, cortava o rio Piracicaba, passava pelo rio Araquá e rasgava a serra do Itaqueri, passando por Brotas e Itirapina, São Carlos até os sertões de Araraquara. 

Com a intensificação do trânsito das tropas por essas trilhas, o Presidente da Província de São Paulo determinou o estabelecimento de “pousos” ao longo do percurso, sendo um dos mais importantes, o “Pouso do Picadão”. Localizado onde hoje se encontra a Igreja Matriz de São Pedro, esse pouso estava estrategicamente posicionado no alto de uma colina entre os ribeirões Pinheiro e Samambaia. O tropeiro Floriano da Costa Pereira, o “Florianão” cuidava pessoalmente desse pouso que foi o berço da nascedoura cidade de São Pedro.

O Jaracatiá foi testemunha do florescer dessas muitas comunidades na região da serra do Itaqueri. Largamente utilizado como alimento de fácil obtenção nas matas, como vermífugo e remédio para o combate a várias infecções, foi também alicerce para o povoamento dos pioneiros na serra do Itaqueri. 

No final do século XIX chegaram no interior de São Paulo, na região da serra do Itaqueri, inúmeras famílias italianas para trabalharem nas lavouras de café. A produção de café para exportação salta para milhões de quilos e o doce de Jaracatiá, já muito famoso na região, ganha o realce da culinária europeia italiana. 

Já no século XX verifica-se o quase total desaparecimento das árvores do Jaracatiá no município de São Pedro e em toda a serra do Itaqueri. A cultura da produção de doces e compotas de Jaracatiá também foi abandonada e esquecida pelas famílias. O Jaracatiá havia então se tornado apenas uma lembrança afetiva na memória dos mais velhos. 

Somente no final do século XX, com o trabalho de reflorestamento e recuperação da sua cultura, desenvolvido pela família Speranza Modesto através da Jaracatiá doce&arte, o Jaracatiá volta a vicejar na serra do Itaqueri e os produtos do Jaracatiá voltam a ser valorizados.

O Jaracatiá na família Speranza Modesto

Tereza Baltieri Speranza e Felippo Speranza

O Jaracatiá sempre foi presença certa na mesa da família Speranza e da família Modesto. Nas reuniões familiares das famílias Speranza e Modesto, sempre havia a fartura da melhor polenta, o delicioso torresmo de porco e os doces de Jaracatiá. 

O senhor Francisco Modesto Filho, o saudoso Vô Chiquinho, ativo mateiro, boiadeiro e comerciante em São Pedro, era grande apreciador do doce.

Quando voltava de suas caçadas pela mata sempre trazia consigo o Jaracatiá e pedia que sua esposa Ana Luiza Antonelli Modesto, a querida Vó Tica, preparasse a compota, cabendo a limpeza dos frutos a sua filha caçula Doroty Modesto. 

Na família Speranza, o casal de imigrantes italianos Tereza Baltieri Speranza, a querida vó Tereza e Fellipo Speranza, o querido vô Pipo, lavradores nos cafezais no Alto da Serra do Itaqueri, conheceram o Jaracatiá em São Pedro. 

Tereza Speranza, não se limitou em apenas copiar as antigas receitas caboclas do doce. A partir da experiência gastronômica européia especializou-se na confecção da geleia e na cristalização do Jaracatiá.

A tradição do Jaracatiá na família, era transmitida aos mais jovens em fevereiro, época da coleta do Jaracatiá nas matas. Todos os primos se reuniam para procurar e coletar os frutos na serra e limpar as frutas para a produção das compotas.

Sob o comando da querida titia Doroty Modesto, as crianças da família eram alertados de que não se deveria comer o Jaracatiá sem antes retirar o leite. Afinal, como sempre repetia a Titia Doroty, Jaracatiá não é mamão. 

Na segunda metade do século XX, com o Jaracatiá já quase extinto, teve início o trabalho de resgate da cultura do Jaracatiá. Margarida Therezinha Speranza Modesto, junto de seus três filhos e primos, buscaram as últimas matrizes de Jaracatiá nas antigas fazendas na serra do Itaqueri. A partir das sementes dessas árvores iniciou-se a produção de mudas que até hoje são usadas para o reflorestamento da serra do Itaqueri, doadas para plantio em todo o Brasil.

Hoje temos no alto da serra do Itaqueri, em São Pedro, na fazenda Clarão na Serra, a primeira plantação comercial e sustentável de Jaracatiá, para o desenvolvimento de diversos produtos. 

Jaracatiá na família Speranza Modesto

Ana Luiza Antoneli Modesto e Francisco Modesto Filho

O Jaracatiá renasceu! Esse é o maior orgulho de nossa família.

Alegria e orgulho de fazer com que o Jaracatiá deixasse de ser apenas uma distante memória afetiva dos mais velhos, para voltar a ser conhecido em todo o país e do exterior. Com o nascimento da empresa Speranza Modesto artesanatos ltda. , a Jaracatiá doce&arte consolida-se como referência de economia criativa e sustentável no Brasil .